terça-feira, 15 de setembro de 2009

Angola, BD, paraquedistas, e bom senso.

O texto que se segue não foi publicado em nenhum jornal em Angola. Embora já tenha sido enviado há algum tempo para o diário Jornal de Angola, não o publicam. Desconheço as razões, talvez o texto não siga os padrões editoriais da publicação.Para que se faça entender toda a discussão envolvida publico também outros 2 artigos (esses sim publicados) que despoletaram tudo isto.

Angola, BD, paraquedistas, e bom senso.
Horácio,
Há algo que não entendo em Angola e nos angolanos, é essa contínua tendência de recusar o seu passado, como se fosse algo de que temos uma imensa vergonha e da qual queremos fugir para bem longe. Um povo sem história, é um povo sem alma. A nação que não tenha cometido erros que atire o primeiro pedregulho. Mas é com os erros que se aprende, é também com as virtudes que se afinca o caminho. Se não compreendermos o passado (não o pretenso pseudo-passado como escreveu Horácio), nunca o dia de hoje terá futuro.
Kandengues de 16 a 20 anos, "estão noutra". Sob influência do mundo todo! Caramba, penso para mim mesmo: Será que ninguém quer influenciar o mundo? Quando era jovem, era nisso com que sonhava: Mudar o mundo, influencia-lo com a minha arte, fazer o mundo pensar em paz, e desafiar quem queria guerra. Tive chances, aproveitei-as o mais que pude. Mas os kandengues angolanos de hoje, segundo certas fontes, querem é ser influenciados pelo mundo. Esquecem-se da sua própria casa, esquecem as suas raízes, são iguais a tantos outros, mas como pertencem ao mundo, e ao 3º dele, ficam por lá influenciados pelo resto do mundo, orgulhosos, levantam bandeiras, conseguem defensores, patrocínios de quem afinal se nega, há séculos, a entender África e os africanos. Porque para muitos é interessante manter os jovens africanos, afinal, assim, influenciados pelo mundo, sem, claro, as mesmas oportunidades que existem lá no mundo que os influencia.
Nas FAPLA, existiu Njango ya Swalali, e nele foram publicadas muitas histórias em formato de BD de caracter didático-militar, partidário, nacionalista, e também de contra-propaganda. Às FAPLA pós-independência foi parar a força jovem de uma nação que jurava defender seu povo, a constituição e o Partido Único. E com ela a juventude toda de uma nação inteira que sonhava ter controlo sobre seu futuro, andar com suas próprias pernas! Era errado pensar assim? É errado pensar assim? Então se há 30 anos, havia BD nas FAPLA, e essa deve ser respeitada, porque não respeitar também uma única escola que iniciou numa garagem do Museu de Antropologia, sem recursos, há 26 anos atrás, onde um grupo de jovens começava uma trajectória que resultou na criação de personagens de BD genuinamente angolanos, como, Masala o Leopardo, Dom Fofo, e o inesquecível Mankiko, o Imbumbável. Que povo mais no mundo sabe o que é ser imbumbável? Isso para não falar dos anteriores Marimbondo e Zito Maganga? Porque será tão retrógado ou eventualmente estático para a atual juventude se influenciar também por esses actuais kotas, vindos da FAPLA, isolados ou da escola Abranches? Só para lembrar, os da escola Abranches não foram seguramente os primeiros, mas foram o que até hoje mais produziram e os únicos que editaram álbuns. Como se faz para recusar a sua influência, que está inclusive patente no traço dos dois jovens irmãos e em muitos outros miúdos da idade deles? Será que os kandengues de outrora não têm nada para transmitir à atual geração, que parece saber tudo, afinal? Que seria do atual boom do kuduro, sem a Semba ou a Kilapanga? Ou também vai me dizer que o kuduro, nasceu assim, influenciado somente pelo mundo, pela net e pela TV (como se a TV e a internet fossem por si só as únicas fontes fiáveis, até porque pela complexidade contida nesses dois meios fica difícil distinguir o que são as boas ou as más influências...). Só como informação de bastidores, a escola Abranches também chegou às FAPLA em 1989.
"O país está a mudar", parafraseou Horácio para defender seu ponto de vista. Em quê, nas estradas e nas escolas? Ou na continua falta de água e de luz? Na falta de infraestruturas? Ou na mudança do neo-colonizador? Ou então na crescente "analfabetização" e "desculturização" que permitem textos como o seu tenham lugar? Na falta de uma classe média forte? Ou nos meninos filhos dos governantes e mwatas que fugiram das FAPLA para o exterior e se formaram com o dinheiro do povo que ficou em Angola? E agora voltam para serem os donos do "pedaço" e detentores da verdade, influenciando tudo e todos com banga de grandes senhores? A história encarregar-se-á de fazer esquecer quem se recusa a ouvi-la. E os meninos "filhos de gente grande", que se recusam a ser influenciados pelo trabalho de toda uma história de jovens idealistas como Abranches, Pepetela, Galhanas, Carlos Alberto, Rui Santos, Sérgio Piçarra, Lito Silva, Abraão Eba, Armando Eduardo, Carnott Junior, e muitos outros, aprendam a respeitar quem veio antes deles, que não é nada mais é o mínimo que se pode esperar dos actuais jovens angolanos, para que talvez um dia sejam, por sua vez, também eles, uma referência para as gerações seguintes. Há, pois, um caminho já trilhado que é desperdício ser esquecido. Porque, discursos como o seu, "defensor dos pobres e oprimidos", transbordante de ódio nas entrelinhas, só afinal, ridiculariza a si próprio, pela evidente falta de conhecimento sobre a história da BD angolana, e está machucando e a atirando para debaixo do tapete o potencial que seus jovens "protegidos" possuem. Que, não sei se sabe, algum dia no passado, também pertenceram à escola Abranches, e não consta que eles tenham recusado a sua influência, pelo contrário... donde mais uma vez, se denuncia a contradição na "tese" defensora. Afinal a garotada que "está noutra", serve-se do prestigio conquistado pelos kotas para abrir portas e ganhar notoriedade, o que não é de todo mau, afinal as portas foram abertas para isso mesmo, mas que sejam honestos e humildes, reconhecendo o facto, é o mínimo que se pode exigir.
Saudações revolucionárias,
Hugo Fernandes


Este texto é resposta a este artigo publicado no Jornal de Angola:

Onde se lê

Artigos
Horácio dá Mesquita| 

O "Njango ya Swalali"

01 de Setembro, 2009
 O “Njango ya Swalali” foi o jornal oficial das antigas Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), montado na secção de litografia da Imprensa Nacional, chefiada por João Gonçalves, hoje um distinto especialista em gastronomia.
Uma grande parte dos oficiais generais conheceu o “Njango”. Lembro-me perfeitamente do dia em que o então capitão José Maria se deslocou à Direcção Política das FAPLA ter com o também capitão Osvaldo Serra Van-Dúnem, alertando para que não se publicasse material sobre a preparação combativa e aspectos do regulamento de combate, porque o jornal tinha mais abrangência do que supúnhamos.
A Imprensa Nacional era uma verdadeira escola e sempre foi, desde o século XIX, quando nasceu a Imprensa Angolana. Lá estava o Luís Henriques e todo o pessoal empenhado na composição e ilustração, que resultavam num primor.
Há 30 anos, foi publicada pelo “Njango ya Swalali” a primeira banda desenhada pós-independência. Deve-se recordar que sempre existiu BD no nosso país, não cabendo a quem quer que seja reclamar o papel de pioneiro da banda desenhada em Angola.
Durante três meses, o “Njango” publicou a história da Batalha de Kifangondo, mostrando o que se passou nos combates, antes, durante e depois da independência, desde a emboscada dos Libongos, que resultou na recuperação do BRDM que, durante muitos anos, esteve exposto no Largo do Kinaxixi, com um buraco bem visível na sequência de um projéctil de 90mm, provocando a morte de toda a tripulação. A BD mostrou o que se passou na “Mãe de Todas as Batalhas”.
O “Njango ya Swalali” ensinou muitos quadros a cuidar dos equipamentos, o aprumo e a reciprocidade da saudação, sendo o respeito a base da disciplina. Dessa publicação saíram quadros, de entre os quais alguns directores de actuais semanários privados.
O jornal das FAPLA ensinou-nos a ser pragmáticos, a não enganar o chefe, fazendo relatórios que não correspondem à realidade. Se algo corresse mal no nosso trabalho, agíamos rapidamente analisando a situação com realismo e frontalidade.
“O país está a mudar”, disse o actual Presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos, quando desempenhava o cargo de Primeiro-Ministro durante uma visita a Cabinda. Parece-nos, entretanto, que existem personagens distraídas.
Passaram-se décadas e hoje são os nossos filhos que, naturalmente, vãotomando as rédeas do país. São eles os ministros, PCA, governadores, etc. É a lei da vida. Temos de ter consciência que o papel que tínhamos outrora, em que tudo tinha de passar obrigatoriamente por nós, já era.
Há cerca de um mês, numa das emissões do programa “Tchilar”, do Canal 2 da TPA, um grupo de jovens, na faixa etária dos 16 aos 20 anos, era confrontado com o pseudo-passado da BD. Foi com naturalidade que rejeitaram qualquer colagem. “Estamos noutra”, disseram. “Não temos qualquer influência nessa direcção, os nossos autores são internacionais, são aqueles que vemos nos canais de TV e na Net”. As pranchas que exibiam mostravam isso claramente.
Eu, pessoalmente, não executo BD. Tenho o domínio das técnicas de televisão, o que tenho feito noutros países é desenho animado. Estou surpreendido com os avanços que os jovens do departamento que chefio têm alcançado em 3D. Eles estão noutra pedalada e eu recolho-me humildemente ao meu lugar, situo-me, pondo de lado egocentrismos, protagonismos, sou filantropo e nem me passa pela mente fazer críticas pejorativas gratuitamente a jovens que têm idade para serem meus filhos, agredindo-os na auto-estima com posições retrógradas e estáticas.
O que os pseudo-pioneiros ou kotas, como se auto-intitulam, mostraram durante estes anos foi elitismo, demonstrando com essa postura o distanciamento em relação às novas gerações e à evolução natural da vida. 


Que por sua vez foi uma reação ao texto escrito pelo Sérgio Piçarra, que despoletou toda esta discussão:

“Luanda-Cartoon”, os ingratos herdeiros da BD angolana
Recém-chegado do exterior do país, li com atenção a notícia publicada no Novo Jornal na sua edição nº 80 de 31 de Julho, sobre a realização do festival de banda desenhada designado “Luanda cartoon”, tendo-me desde logo chamado a atenção um aspecto “curioso”: Lindomar de Sousa, um dos jovens promotores do evento, irmão do não menos jovem Olímpio, dizia em entrevista, que o “Luanda-Cartoon se assume como a grande mola impulsionadora da BD em Angola, tendo inclusive motivado artistas antigos, como o Sérgio Piçarra, a publicar o Jornal Kissonde…”.
Ora, cabe-me esclarecer ao leitor menos atento que estas declarações não fazem o menor sentido, porque pretensiosas e oportunistas, que só desculpo dada a pouca idade de quem as proferiu.
Não vou aqui maçar o leitor com dados desnecessários, apenas lembrar os dois jovens promotores de que a minha actividade na e pela banda desenhada remonta ao ano de 1984, data em que eles deviam estar a entrar para a escola. O Jornal Kissonde, tal como o Jornal do Mankiko (cerca de 15 anos antes) surge como resultado de uma luta de resistência que tenho travado para manter o cartoon e a banda desenhada angolana vivos. Desde que me conheço como desenhador de BD e cartoonista que me vejo envolvido nessa luta, ou seja, há pelo menos 25 anos, não tendo pois que provar nada, pelo que o mais lógico é eles se inspirarem no meu trabalho do que o contrário…
Mas, diferenças de idade e de curriculum à parte e aproveitando a oportunidade, confesso que nunca cheguei a perceber as reais razões de os irmãos Lindomar e Olímpio nunca me terem convidado, formalmente, para as suas actividades em “prol da BD”. E isto, apesar das “boas relações” que existem entre nós. Nem a mim, nem a muitos outros! Se assim é, que “festival” temos, afinal?
O festival tem o seu mérito, ninguém nega. Mas se o fazem de boa-fé, devem então os organizadores tornar o evento verdadeiramente abrangente a todos os artistas de BD e não apenas a meia dúzia deles como tem acontecido. Isso fará com que o apoio que recebem da embaixada de Portugal, Unitel e TPA resulte em benefício de todos, convidando formal e educadamente os mais velhos e todos os outros e discutindo com eles pormenores do evento. É lamentável e inadmissível que um evento que se diz aberto exclua, consecutivamente, desenhadores como Hugo Fernandes, Lito Silva, Abraão Pedro, Romão, Vitorino, Dias, sem falar do histórico Rui Galhanas. A menos que mudem a designação do festival e aí o caso muda de figura. Alguns queixam-se de terem sido precariamente avisados e outros ainda após terem participado nas primeiras edições, decidiram não voltar participar…porque será? O sentimento geral é que os dois jovens irmãos se servem do festival para se auto-promoverem, não lhes reconhecendo competência (nem idade…) para falarem em nome da BD angolana.
Alguma coisa, parece pois, precisar de ser posta no seu devido lugar. Sem falsa modéstia, pertenço a uma geração que, de certeza, merece muito mais respeito e consideração por aquilo que fez em prol da banda desenhada em Angola. Mais do que os jovens auto-intitulados cartoonistas (cuja obra se desconhece) que o festival tem promovido e no qual os irmãos Olímpio e Lindomar são as estrelas cintilantes. Porém, quem percebe de desenho e de banda desenhada dirá que muitos dos integrantes do grupo precisam mais de aprender do que publicar ou expor.
Nem eu, nem nenhum dos kotas, está interessado em disputar protagonismos. O festival é necessário e a iniciativa é de aplaudir. O que se pretende, simplesmente, e esta é a razão principal deste texto, é que o festival respeite e reconheça a verdade da história da banda desenhada angolana e dos verdadeiros artistas que a fizeram. Dando-lhes o devido destaque. No mínimo, para que essa verdade não caia nas mãos de algum “vilão” disfarçado de “herói da banda desenhada angolana”, sedento de fama e glória…
O recado final vai para o Instituto Camões e para as empresas que apoiam o evento, no sentido de pugnarem pela abrangência e pela qualidade do mesmo, apelando a uma maior representação de artistas, em especial dos mais antigos, daqueles que, afinal, estão na origem do nascimento da BD angolana, e de quem Olímpio e Lindomar são, ao que parece, ingratos herdeiros. O vosso apoio dignificaria, assim, toda uma classe em vez de um pequeno grupo. E, concerteza, elevaria o nível do festival.
Sérgio Piçarra
Agosto 2009


quinta-feira, 3 de setembro de 2009

BD em Angola

Tema que dá muita discussão.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Desenvolvimento do web site www.gerarsaude.com.br

O web site Gerar Saúde está praticamente pronto. Tem sido uma experiência muito interessante, tanto a nível de criatividade, como de uso de novas tecnologias da web para este tipo de site. Combina técnicas de java, html, css e flash num só site. Aproveitando o de melhor que essas tecnologias tem a oferecer para uma transmissão superior da alma do cliente. Dr Macos Caetano e Dra Caroline Caetano, têm sido de fato produtores de um conteúdo admirável, bem como seu empenho no enriquecimento do website tem ajudado muito a compô-lo.


Parabéns Gerar Saúde! E Obrigado por escolherem os meus serviços.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Estou ensinando a mecher no blogspot

No Galeria Shopping, com o Dr Marcos

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Widget

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

O D Quixote já tem cabeça e chapéu

(clique na imagem para vê-la maior)


A estrutura da cabeça comporta o "chapéu" característico de D Quixote. A estrutura básica de toda a peça está concluída, agora passarei para a estrutura de roupas, acessórios e corpo. A altura é de 1,64 sem a base, e com base mais 10 cm.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Novo Trabalho - D Quixote de La Mancha















Mais uma vez volto ao tema D Quixote. Acho que necessito dele, como necessito de respirar. A partir de hoje vou postar todas as fases do trabalho da modelagem deste trabalho em 3 dimensões.

A imagem mostra a estrutura metálica em alumínio galvanizado sobre a base de 10 kilos de gesso.

Logo que tenha um desenvolvimento significativo, volto a publicar foto.

Abraços!